Em 1979, o contemplado sociólogo canadense Erving Goffman lança sua obra o qual introduz, pela primeira vez, o conceito de Footing, que, traduzindo, seria um “pé-por-pé”, uma caminhada. Mas, para a sociologia, Footing descreve, basicamente, a projeção do “eu” social em um determinado evento comunicativo (conversa, aula, discurso, debate), ou seja, como eu me comporto, meu alinhamento, minha postura, autoridade em relação ao outro, a você mesmo, e para com o discurso.
Uma das primeiras análises que Goffman faz é baseada no fato histórico na política americana em 1973, quando o então bufão presidente Richard Nixon se levantou de sua mesa em um evento de assinatura de documento no salão oval da Casa Branca para se dirigir a jornalista Helen Thomas e questioná-la o porquê dela estar usando calças. Por fim, sem muitos bons argumentos, ironicamente determinou-a que usasse saias.
Para o sociólogo, este incidente evidenciou o poder do presidente, na figura de autoridade, a forçar um indivíduo do sexo feminino a passar da sua capacidade profissional para a sua capacidade sexual e doméstica, em uma circunstancia em que ela estava preocupada em ser respeitada como uma profissional, e nada além. A análise então evidencia que por de trás de uma política de gêneros (lembre-se que isso ocorreu na década de 70), há algo mais significativo: o pressuposto social de que as mulheres devem estar sempre prontas a se sujeitar a comentários sobre sua aparência. Ou seja, de que toda mulher deve estar sempre pronta para trocar de papéis sociais, de footing, pisar em outro campo, ou melhor, permitir que lhes troquem de campo, podendo a qualquer momento deixar de ser “a jornalista”, participante da ação (cobrindo um evento na Casa Branca), para se tornar objeto de aprovação ou não, “a bonita” ou “a atraente” (sendo bem eufemístico nos exemplos).
Enfim, então ao longo da obra Goffman vai apontando uma série de fatores sociais que compõem um simples “estado aberto de fala”(termo que ele usa).
Mas, o que me trouxe, quase que instantaneamente a me lembrar desta obra foi justamente esta foto de cima: trata-se das fotos oficiais da equipe feminina de futebol de Rossiyanka, da Russa, próxima a Moscou.
Segundo a presidente Svetlana Zhuravleva, colocar as jogadoras de biquíni em campo serve para atrair os holofotes, o público masculino e conseguir patrocínios.
O mais absurdo e interessante de se analisar é que esta mudança de papel social, da esportista profissional para a gostosa da foto, foi do interesse das jogadoras, e não necessariamente partiu de um homem conservador e machista. Não se trata de se submeter a uma análise embaraçosa como de Helen Thomas à Nixon. Mas a percepção de que “seria mais fácil conquistar patrocínios se, de repente, ao invés de serem enxergadas como esportistas, tirassem suas roupas”.
Fiquei sabendo desta notícia via Twitter quando alguns homens diziam, ironicamente, coisas como “só assim o futebol feminino vai para frente”.
É uma pena que em pleno século 21 ainda se tenha essa visão sobre o papel social da mulher, sempre ligada e dependente de seu corpo. Se elas ainda querem , ainda , serem vistas como esportistas esse patrocínio saiu bem caro.
E vocês mulheres, o que acham ?
Fonte : http://folhadecapa.wordpress.com/